terça-feira, 26 de janeiro de 2010

POESIA CEARENSE: STÊNIO FREITAS


                                     AURIBERTO CAVALCANTE E STÊNIO FREITAS



SOLDADOS OU RITUAL DA DESCONSTRUÇÃO


Primeiro foram tirados de suas casas.
Móbiles flexíveis
sugestionáveis...
Rasparam suas cabeças
e consciências.
Deram-lhes de comer
e um número...
arrancaram suas identidades.
Vestiram-lhes em
gala e coturnos.
Cobraram-lhes juramento de vida e morte
a uma pátria
que estertora a cada continência.
À pompa do som de " Capitão Caçula "
fizeram-lhes marchar - ovelhas amestradas -
cavaleiros da cúmplice figura.


II


Vocês ( 0s transmudados ), na armadura da farda de campanha,
filhos do pedreiro,
são os que destroem os andaimes
com o marcar de passos
e embalsamam a liberdade
em argamassa de tradição;
filhos do metalúrgico,
que fundem com a lição do aço
mais uma algema;
filhos da lavadeira,
que nodoam a camisa branca
aprontada para a grande festa da libertação;
filhos do estivador,
que descarregam o medo
nos portos das praças e das almas,
empanzinando os porões
dos novos navios negreiros
com a dignidade e o suor
dos antepassados;
filhos do lavrador,
que semeiam o ódio,
aram a honra de pais e irmãos
com estocadas de baioneta,
aguam a repressão
e colhem a indiferença
pelo sangue sugado no parto da terra;
filhos da parteira,
hoje provocadores do aborto assassino
da continuidade operária,
os que fazem do cordão umbilical
cordão de isolamento
contra a ciclópica passeata da vida;
filhos do vigia,
que saqueiam noites
e confabulam crimes
estrategicamente traçados na mesa de comando;
filhos da puta, da vassoura humana
que gastou a noite e o corpo
para os gerar,
alimentar,
ninar seus berros
de mamíferos recém-paridos,
são vocês, instrumentos
de mercador patenteado...
o próprio meretrício da pátria !
São vocês,
na armadura da farda de campanha,
que amontoam nas calçadas
os bêbados vadios,
os desempregados,
os que imigram.
O dinheiro pago
para que finjam libertação
traz numa face a estampa cínica
da cara de herói impostor;
na outra, a fome,
a úlcera,
o feto estrangulado pela empregada doméstica
( usada na folga do sentinela );
os olhos fundos que tombam
na partitura do milharal devastado !



STÊNIO FREITAS
POETA CHOCALHEIRO

IN: " TOME CINCO, CAMARADA " - 1987 -
ANTOLOGIA PUBLICADA PELO GRUPO CHOCALHO E O MOVIMENTO DE ARTE
PROLETÁRIA - ARTE-PRO


CONHEÇA MAIS UM POUCO SOBRE STÊNIO FREITAS:

Stênio Freitas Poeta, escritor e Escultor, é autor de vários livros. Membro fundador do Grupo Comboio
Vida & Arte. Membro do Grupo CHOCALHO.Foi Presidente por duas vezes consecutivas do Clube
dos Poetas Cearenses.
Durante a ditadura militar, STÊNIO FREITAS, foi severamente perseguido. Foi nesses dias
difíceis que ele cristalizou se ódio à dominação burguesa, decidindo engajar sua arte na luta sem
quartéis e pelo fim dexploração capitalista.
STÊNIO é um combatente de vanguarda da Classe Proletária; sua arte, técnica e conteudisticamente,
a cada dia mais se aperfeiçoa nos embates da luta de Classes.

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