sexta-feira, 8 de outubro de 2010

CONHEÇA O PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA 2010

Vargas Llosa: Nobel à América Latina

" O escritor reagiu com surpresa à notícia de que conquistara o Nobel de Literatura: "Não pensava que estaria nem entre os candidatos. Vou seguir trabalhando como sempre fiz"
FOTO: AGÊNCIA ESTADO


" O escritor peruano Mario Vargas Llosa foi premiado ontem com o Nobel de Literatura 2010. Para o autor, o prêmio é um reconhecimento à literatura latino-americana."

" Aos 74 anos, com mais de 30 romances, contos, peças e ensaios publicados e traduzidos em mais de 20 línguas, Mário Vargas Llosa é o sexto escritor latino-americano a receber um Nobel de Literatura. Antes dele, foram premiados a escritora chilena Gabriela Mistral (1945), o guatemalteco Miguel Ángel Asturias (1967), o também chileno Pablo Neruda (1971), o colombiano Gabriel García Márquez (1982) e o mexicano Octavio Paz (1990).

O comitê de premiação do Nobel informou ontem que a escolha de Llosa se deu por conta da "cartografia das estruturas do poder e afiadas imagens de resistência, rebelião e derrota do indivíduo" que aparecem na obra do autor.

Llosa, que está em Nova York, onde é professor visitante na Universidade de Princeton, afirmou à rádio colombiana RCN que se surpreendeu com a escolha e disse que o prêmio (algo em torno de R$ 3 milhões) é um reconhecimento à literatura latino-americana e em língua espanhola.

"Não pensava que estaria nem entre os candidatos. Por mim, vou seguir trabalhando com um sentimento de responsabilidade, como sempre fiz. Defendendo coisas que são fundamentais para o Peru, para a América Latina e o mundo. A liberdade e a democracia são o verdadeiro caminho do progresso, da verdadeira civilização, que acredito que seja o papel de um escritor defender". O escritor receberá o Nobel de Literatura, no valor de US$ 1,5 milhão, no dia 10 de dezembro, em Estocolmo.

Vida e obra

Nascido na cidade de Arequipa, no Peru, em 28 de março de 1936, numa família de classe média, Mario Vargas Llosa se formou em Letras e Direito pela Universidade Nacional Maior de São Marcos, em Lima. Antes de se tornar escritor, ele trabalhou em diferentes funções, como redator de notícias na extinta Rádio Central, funcionário de biblioteca e até revisor de nomes de túmulos de cemitério, segundo a biografia apresentada em seu site oficial (http://www.mvargasllosa.com). Em 1959, publica seu primeiro livro, a coletânea de contos "Os chefes", e escreve uma peça de teatro chamada "La Huída del Inca". Sua carreira literária começava a despontar naquele momento.

A produção de Vargas Llosa permeia diversos gêneros da literatura, com forte inclinação ao realismo fantástico. Muitas de suas obras possuem componentes autobiográficos. Seu famoso romance de estreia, "A cidade e os cachorros" (1962), foi inspirado em sua adolescência em uma academia militar na capital peruana.

Outro exemplo é o livro "O peixe na água" (1993), em que relata a experiência frustrada da candidatura à presidência do Peru. Episódio que o marcou profundamente, a ponto de motivá-lo a deixar o país, após ser derrotado pelo até então desconhecido professor universitário Alberto Fujimori, que ficaria no poder durante 10 anos e depois fugiria sob suspeita de corrupção e violação dos direitos humanos.

A temática política também é bastante explorada por Llosa. Ele costuma criticar a hierarquia de castas sociais e raciais, vigente ainda hoje, segundo ele, no Peru e na América Latina. Mas seu principal foco é mesmo a luta pela liberdade individual na realidade opressiva de seu país. Por sua rica produção, Llosa recebeu, ao longo de sua carreira, outros importantes prêmios, como o Miguel de Cervantes, em 1994, uma das principais honrarias destinadas a autores em língua espanhola.

Polêmica

Conhecido por suas posições políticas por muitos consideradas de direita, Vargas Llosa, até a década de 1970, era um esquerdista. Alguns nunca o perdoaram pela mudança de linha ideológica, que fez o escritor defender apaixonadamente uma mistura de livre-mercado com liberalismo social, com profissão de fé na democracia e ódio por regimes autoritários.

Em 1971, Llosa publicou um ensaio sobre o colombiano Gabriel García Márquez, mestre do realismo fantástico. No entanto, os dois tiveram um famoso desentendimento, chegando a trocar socos em frente a um teatro da Cidade do México em 1976. Um amigo de García Márquez disse que Vargas Llosa não gostou de saber que o colombiano havia consolado a mulher dele durante um período de brigas do casal, mas Llosa não quis discutir o assunto, motivando inúmeras especulações. Além dos políticos do Peru, o escritor costuma disparar críticas contra líderes latino-americanos como Fidel Castro, Hugo Chávez e, mais recentemente, o próprio presidente Lula. Controvérsias políticas à parte, o apuro estético de sua obra é agora reconhecido com o Nobel de Literatura.



PRINCIPAIS OBRAS


1959 - Os Chefes

1963 - A Cidade e os Cachorros

1966- A Casa Verde (Prêmio Rômulo Gallegos)

1969 - Conversa na Catedral

1973 - Pantaleão e as Visitadoras

1977 - Tia Júlia e o Escrevinhador

1981 - A Guerra do Fim do Mundo

1984 - História de Mayta

1986 - Quem Matou Palomino Molero?

1987 - O Falador

1988 - Elogio da Madrasta

1993 - Lituma nos Andes

1997 - Os Cadernos de Dom Rigoberto

2000 - A Festa do Bode - novela sobre a ditadura do general da República Dominicana, Rafael Leónidas Trujillo

2003 - O Paraíso na Outra Esquina - Novela histórica sobre Paul Gauguin y Flora Tristán.

2006 - Travessuras da Menina Má

Olhares cearenses sobre Llosa
Para escritores cearenses ouvidos pelo Caderno 3, a distinção de Mário Vargas Llosa com o Nobel de Literatura 2010 é positiva para a América Latina. Mas alguns autores destacam o fato de o Brasil nunca ter conquistado o prêmio, pontuando questões referentes a política e à dificuldade de se aprender ou de se assimilar a língua portuguesa. De acordo com a professora e escritora Tércia Montenegro, a premiação de Llosa é sinal de reconhecimento por anos de dedicação à literatura. "Fiquei muito feliz com a notícia. Vargas Llosa vem desenvolvendo uma produção literária muito interessante, voltada ao universo do insólito e do fantástico, uma vertente da literatura, ainda, pouco explorada", afirma. "É impressionante a leveza e, ao mesmo tempo, o toque de ironia que rege suas histórias. Particularmente, gosto muito de seu livro ´Pantaleão e as Visitadoras", destaca a autora.

O escritor e professor Batista de Lima também considera merecido o prêmio, mas não deixa de destacar uma certa ponta de inveja em relação ao Brasil ainda não ter nenhum autor premiado com o Nobel. "São questões políticas que há por trás da premiação. O português não é uma língua fácil como o espanhol, mas isso não quer dizer que não temos autores bons. Ao contrário, penso que nomes como Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Dalton Trevisan, Lygia Fagundes Telles e os cearenses Francisco Carvalho e Gerardo Melo Mourão seriam grandes merecedores do Nobel", aponta. "Llosa tem bons livros como o ´Tia Júlia e o Escrevinhador´ e o ´Conversa na Catedral´. É um escritor conhecido internacionalmente, tem obras traduzidas em vários países", reconhece. "Recebeu o título de cidadão espanhol e tem uma posição política conservadora e de direita. Ele é tão conservador que sua primeira mulher foi sua própria tia (a tia "Júlia" do livro). É um grande escritor ao lado de Jorge Luis Borges e Julio Cortázar".

Escritor e professor, Genuíno Sales observa que ainda perdura uma grande distância do Brasil quanto aos autores de outros países latino-americanos. "Mas ´A Guerra do Fim do Mundo´, para mim, é um livro extraordinário. Dialoga diretamente com ´Os Sertões´, de Euclides da Cunha. Certos intelectuais só tomaram conhecimento dos Sertões através dessa obra", conclui. "O Nobel é uma oportunidade de mais pessoas conhecerem o autor"."


Destaques

"Llosa tem bons livros, como ´Tia Júlia e o Escrevinhador´ e ´Conversa na Catedral´"

Batista de Lima
Professor e escritor

ANA CECÍLIA SOARES
REPÓRTER

FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=864350

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